segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Missão das Irmãs Servas de Maria Reparadoras em Santa Rosa do Purus



Em Santa Rosa do Purus, a Congregação das Servas de Maria Reparadoras está inserida em uma missão muito desafiadora. A localização geográfica, as condições de transporte e a realidade de isolamento do município são fatores que constantemente apresentam situação de risco para as irmãs que desenvolvem atividades missionárias nesta realidade, haja vitso, que Santa Rosa do Purus está situada numa área de fronteira isolada do Estado e do Mundo, onde a população só tem acesso a dois tipos de transporte: Aéreo em aviões de pequeno porte e barcos clandestinos que navegam sem segurança e fiscalização. De avião o percurso do município para a capital é de uma hora e vinte minutos e de barcos são cinco dias de viagem viajando dia e noite no terceiro maior Rio da Amazônia tanto em volume de água como em extensão geográfica.
Em virtude da carência de pessoas qualificadas e habilidades para trabalhar na área da saúde e da educação do município nossa missão tem sido vinculada a Secretaria municipal de educação e a secretaria de saúde, como técnicas e especialistas nestas áreas, assumimos um serviço missionário profissional tanto com as comunidades indígenas como com as não-indígenas. Na área da saúde, desenvolvemos um trabalho preventivo, com muito respeito à crença na força da natureza, no uso da medicina natural praticada pelas culturas indígenas que acreditam na pajelança, nos rituais e na cura que vem por meio dos espíritos, quando são invocados através das danças de mariry, e dos rituais religiosos.
Na área da educação trabalhamos a proposta de educação diferenciada, considerando que a educação indígena compreende os processos pelos quais esses povos asseguram seus projetos de futuro, reproduzindo e reconstruindo a identidade, a tradição, os saberes, os valores, os padrões de comportamento e de relacionamento, na dinâmica própria de suas culturas.
Através da Secretaria de educação estamos elaborando e desenvolvendo vários projetos na área de meio ambiente: manejo de lagos, de rios, igarapés, de caça, palha, e madeira de lei, tudo para garantir a sobrevivência deste povo na floresta.
Antes das demarcações das terras indígenas não era necessário tanta preocupa com a preservação do meio ambiente e com a agricultura de substância nas aldeias, eram épocas de muita fartura de caça, peixe alimentos naturais extraídos da própria natureza. Quando os alimentos acabavam em um lugar a comunidade transferia-se para outro, e só retornava depois de muitos anos, quando a natureza já tinha se recomposto. Mais com as demarcações das terras indígenas cada comunidade recebeu sua área de terra e não pode mais migrar para outras terras, as caças e os peixes com o tempo se tornam escassas, assim como o palmito, cagaço, uricuri, pama, manixi, cajarana, bacuri, jarina, jenipapo e tantos outros frutos que eram utilizados como alimento nas comunidades indígenas. Por esta razão hoje as comunidades indígenas estão passando muitas necessidades, a fome é grande nas aldeias.
Tendo em vista nossa função de promover a vida, e a justiça social, sabemos que um sistema de saúde e de educação de qualidade é de fundamental importância o desenvolvimento das comunidades indígenas e não - indígenas do município, por esta razão tomamos a iniciativa de elaborar projetos de educação diferenciada, de manejo, de incentivo ao cultivo de plantas medicinas e agricultura de subsistência para que as comunidades indígenas tenham acesso a uma alimentação mais nutritiva de acordo com seus hábitos alimentares evitando problemas de saúde como anemia, desnutrição e outros.
E como presente de Deus neste contexto tão complexo, temos o privilegio de conhecer e compartilhar de forma concreta da missão do Frei Paolino nas margens do Rio Purus, de modo especial nas comunidades indígenas. Em suas viagens missionárias, Frei Paolino, sempre reserva um tempo para nos situar nesta realidade marcada por tantas contradições, muita pobreza, exploração, discriminação que tem origem, sobretudo, nas diferenças culturais e sociais. Como um mestre de solidariedade Pe. Paolino orienta-nos, incentiva-nos, é solidário às nossas dificuldades, compreende nossas limitações, mas sempre espera e exige uma ação corajosa de nossa parte frente aos desafios da missão.
Para a população de santa Rosa, Frei Paolino é um profeta visionário, cheio de compaixão e de indignação pelos sofredores e empobrecidos desta realidade. Ele sempre luta por uma sociedade assentada na justiça societária, onde a vida seja respeitada e reine a solidariedade e a fraternidade e não a injustiça e a desigualdade, onde a riqueza de poucos é feita à custa da pobreza de muitos.
E para nós servas de Maria Reparadoras, compartilhar da missão deste Servo de Maria, é ter oportunidade de rever nossos valores carismáticos, sobretudo no que se refere a simplicidade de vida, o despojamento, o desapego material...É assumir uma atitude de fé, fazendo a experiência do pobre vivendo a pobreza junto com eles, expostas aos desafios e aos riscos que a missão nos impõe com a certeza estamos dando continuidade ao projeto de missão almejado por Madre Elisa.
O trabalho com as comunidades indígenas é muito gratificante, principalmente para quem compreende que o convívio com outras culturas e de modo especial com as culturas tradicionais é uma porta que se abre para um mundo sem fronteira, para uma consciência planetária, onde as diferenças culturais, políticas, religiosas e econômicas se tornam oportunidades de crescimento pessoal, profissional e espiritual.
Santa Rosa do Purus é formada por uma população pluricultural. 60% dos habitantes do município são indígenas. São quatro etnias diferentes que falam idiomas diferentes,“é uma Torre de Babel”. Além disso, por estamos numa área de fronteira com Peru, temos também um grande número de imigrantes peruanos que vem para o Brasil em busca melhores qualidades de vida, e aqui ficam na maioria das vezes de forma clandestina, aculturados, tentando sobreviver. E neste contexto estamos inseridas, cheias de esperança, vivendo o nosso carisma e a nossa espiritualidade junto a este povo que luta pelo resgate de suas culturas, pela reafirmação de suas identidades, e melhores qualidades de vida. Nesta realidade evangelizamos e somos evangelizadas. A convivência com as culturas primitivas e o contato direto com a natureza nos reporta a uma experiência mística semelhante as das primeiras comunidades cristãs: onde tudo é partilhado, sobretudo a esperança...
Ir. Socorro Siqueira

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