domingo, 14 de março de 2010

Encontro com o assessor das Juventudes da CRB Nacional frei Rubens


Nos dias 30 de abril a 2 de maio de 2010 acontecerá em Rio Branco o encontro sobre as juventudes, o mesmo será assessorado pelo Frei Rubens atual assessor do projeto Juventudes da CRB Nacional.



Juventude ou juventudes: Compreendendo a diversidade!


Começo esse artigo parabenizando as irmãzinhas da Imaculada Conceição por conseguir priorizar a reflexão sobre o trabalho com juventudes ao ponto de construírem um projeto da Congregação. Perceber o empenho das irmãs nesse sentido foi animador, pois somente formando essa rede em prol das Juventudes conseguiremos a compreensão necessária para uma maior aproximação dessa realidade.

Escrevi na convergência (julho/agosto 2009.XLIV.no 423) sobre esse tema, porém trazendo presente o Projeto da CRB nacional e todo movimento que a Igreja da América Latina e Caribe está fazendo nesse sentido. Nesse artigo proponho a reflexão sobre o termo “juventude” com base em três instâncias ou organismos que refletem essa terminologia. A Social que, a partir da década de cinquenta, entende a nomenclatura como uma fase de preparação . Esta é cunhada para um período da vida em que a pessoa não é criança ou adolescente dependentes de cuidados familiares, mas ainda não tem habilidades suficientes para ingressar no mundo do trabalho e assumir responsabilidades. A ONU define juventude a partir do cronológico, ou seja, jovens são os que estão entre as idades de 15 a 24 anos (Souza, 2008). Para a Psicologia é uma fase que pressupõe um nível de maturidade diante do processo constituído socialmente e que venha possibilitar a emancipação futura, quando adulto.

Essas reflexões apontam que é necessário observar as transformações do indivíduo, tanto fisiológico quanto cultural nessa fase para evitar a padronização e rotulação que reduzem. Ao mesmo tempo, é uma construção histórico-cultural que aponta para um sujeito (Waiselfisz, 2007) que se constitui socialmente a partir das relações. Devido a essa compreensão, enquanto fase, passagem e transitoriedade, temos como consequência a desconsideração da pessoa, uma vez que, acentuando a fase de preparação o que passa a ter valor é o futuro, quando estará pronto para o mercado. Apontamos que essa compreensão tende a uma imagem esteriotipada, onde o jovem é visto como instável, sem compromisso, não considerado na elaboração de projetos, mas como tarefeiro/mão de obra barata, que só é chamado para executar.

Contudo abordar essa ‘categoria’ a partir do termo juventude tem reduzido sua compreensão como fase de preparação, fazendo com que surja outro problema que é sua generalização. Vista no singular, a juventude sofre com a padronização e rotulação justificando as expressões: “no meu tempo era assim...”, “grupo de jovens tem que ser assim...”. Compreender a diversidade de jovens que há, tanto no meio eclesial quanto no secular, ajuda a entender a singularidade de cada grupo.

Perceber que não há somente um tipo de jovem em uma realidade única penalizado com essa configuração que reduz e generaliza, mas que as juventudes, no plural, por ser diversa (Souza, 2008) são susceptíveis às crises. O termo crise implica em processo de revisão que desinstala e provoca mudanças. Nesse sentido todos nós passamos ou deveríamos passar por essas! Contudo a fase juvenil tem como característica as buscas, experiências que ajudam pensar o projeta de vida. Essa pluralidade juvenil se dá nos diversos campos culturais, como nas diversas realidades em que se encontram; tanto no meio eclesial (pastorais e movimentos), quanto no meio secular/social (Emos, moda, seguimentos...). Contudo, por já sofrer com a desassistência e padecer com os preconceitos essas juventudes se vêem excluídas dos nossos meios, tendo que criar formas alternativas para cultivar as relações (Revista Época, nº 578). Essa situação agrava para os jovens que dependem do ensino público e sofre com o déficit escolar. Outros trazem o sofrimento da “desestrutura” familiar e todos penam com a falta de opções no campo de trabalho. Obvio que essa situação provoca crise e confusão frente ao Projeto de Vida. Se nós, adultos passamos por crises, por que não ter paciência com os questionamentos e inconstâncias próprias de uma fase tão penalizada pela sociedade?
É necessário perceber que o jovem tem o direito de ser percebido em si mesmo, ou seja, que ser jovem traz seu próprio sentido e que seus valores podem ser verificados nessa fase que é muito mais do que a idade, é o reconhecimento de sua existência. Essa reflexão pode ser mais animadora e projetiva do que a frase costumeiramente ouvida: “o jovem é o futuro de amanhã”. O que sabemos é que nesse “amanhã” ele poderá ser qualquer coisa, menos jovem. O futuro depende do hoje! Se valorizarmos o jovem e investirmos em seu protagonismo (Souza, 2008), o futuro melhor que sonhamos terá maiores condições de ser presentificado.

Vislumbrando Horizontes

A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) em sua XXI Assembléia Nacional ocorrida em julho de 2007 em São Paulo priorizou as Juventudes que não estão no meio eclesial, sem abandonar jovens que já estão no meio eclesial, mas para que, a partir deles, se possa chegar àqueles e aquelas que ignoramos. Esse olhar para fora de si mesma em prol das juventudes pode evitar um abismo maior, um verdadeiro desastre “ecológico” irreparável. Acrescentar esse S já preconiza a diversidade que se quer atingir, não somente jovens que estão no meio eclesial, mas as juventudes que não conhecemos. Essa reflexão tem despertado para o que é primário e secundário nos trabalhos com juventudes. A priori se percebe que a aproximação com a juventude traz o interesse institucional: queremos mais jovens para a catequese, para o grupo de jovens, para a liturgia, para as nossas congregações... Esse querer é lícito diante da missão que acreditamos ser continuidade do Reinar de Deus, contudo se torna secundário quando notamos que, sem a vida dos jovens não é possível convite para um projeto, seja na comunidade ou na congregação. Sem a vida não se pode pensar em projetos, por isso essa é primária.

No Seminário nacional entre os dias 29 e 31 de maio de 2009, na Escola Nacional Florestan Fernandes – Guararema-SP as Pastorais de Juventude do Brasil (PJB), escreveu uma carta manifesto, fruto desse importante mutirão (incluindo CRB e CNBB) que quer se tornar uma campanha:

Reuniram-se no Seminário Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil, construindo, em mutirão, a Campanha Nacional contra o Extermínio da Juventude, nascida na 15ª Assembléia Nacional das Pastorais da Juventude do Brasil, com o lema: Juventude em Marcha, contra a violência. Acreditamos numa sociedade sem racismo, sem machismo, sem sexismo e sem homofobia. Cremos no fim de todas as prisões, no fim de todas as formas de extermínio, na construção de outras formas de organização da sociedade e na utopia de um mundo sem oprimidos/as e sem opressores.

Diante dessa realidade, nos sentimos interpelados/as a fazermos um movimento em direção às juventudes, focando primeiramente em suas necessidades e não nas instituições. Para tanto, assumimos um projeto comum, como Igreja do Brasil, o projeto proposto pela Conferência dos Bispos da América Latina (CELAM). Esse projeto pressupõe um planejamento com duração de 4 anos, contendo as seguintes etapas:

1º - (2008) – Ano de encantamento em vista de uma adesão à causa do jovem, da pessoa do jovem.

2º - (2009) – Escutar os jovens com a escuta de Jesus. Sair em missão rumo ao jovem, em seus lugares concretos (espaços vitais). O que interessa é a pessoa do jovem e, para isso, é preciso entendê-lo. Como está o sentido da vida desses jovens? Escutá-los em suas diversas realidades (exclusão nas ruas, prisões...). O movimento da Igreja e da Vida Religiosa deverá voltar-se em especial para o jovem, percebendo sua realidade. Olhar e perguntar a partir do sujeito, sem pré-conceitos (as tatuagens, danças...) o que isso quer dizer?

3º - (2010) – Discernir - ver o que pode ser feito e acompanhar o processo. Sistematizar as contribuições e trabalhar a proposta de um documento final.

4º - (2011) – Conversão em prol dessa causa. Numa atitude missionária, mudar de rumo se for necessário, em vista de um seguimento fiel e coerente com o Evangelho no caminho de encontro com os jovens.

A CRB Nacional, no que diz respeito à essa prioridade, não tem a pretensão de trazer necessariamente o novo, mas ampliar as realidades encontradas. Esperamos, a partir desse projeto e, principalmente da missão da escuta, encontrarmos pistas que possam nos ajudar nessa aproximação das juventudes. Uma constatação já temos, de que não é possível atingirmos esse objetivo isoladamente, olhando somente a partir de nossa Congregação ou Instituto, é preciso somar forças, formar uma rede em prol dessa causa.

Frei Rubens Nunes da Mota, OFMCap.

Referências bibliográficas:
Convergência (setembro/outubro 2009) XLIV No 424.
Revista Época, 15 de julho de 2009, No 578, P. 64-71.
Souza, R. M. (2008). O discurso do protagonismo juvenil.São Paulo: Paulus.
Waiselfisz, J. J. (2007). Relatório de desenvolvimento juvenil. Brasília-DF: Ed. RITLA

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